O recente tarifaço imposto pelos Estados Unidos, embora com impacto menor na Bahia em comparação a outros estados, acende um alerta para o setor agropecuário, especialmente para produtos perecíveis como manga e uva do Vale do São Francisco e de Livramento de Nossa Senhora. Em entrevista ao programa Webinar da Indústria, Humberto Miranda, presidente do Sistema Faeb/Senar, destacou a necessidade de um diálogo entre Brasil e EUA para mitigar os efeitos da medida, que impacta diretamente emprego, renda e inflação.
“A gente espera que os governos criem pontes de abertura e diálogo e construam uma solução econômica boa para os dois países. São duas economias e grandes exportadores de alimentos”, afirmou Miranda, ressaltando que produtos como café, manga e uva não geram concorrência direta com os americanos, diferentemente da carne, onde os grandes frigoríficos brasileiros possuem bases nos EUA.
Além das questões de política externa, o líder empresarial foi incisivo ao abordar os desafios internos que afetam o desenvolvimento da Bahia. Miranda criticou a insegurança jurídica no campo, defendendo o fim das invasões de terra e a adoção de práticas justas para a aquisição de terras, com o devido suporte em infraestrutura, conhecimento e tecnologia para os novos ocupantes.
“É preciso acabar com invasões de terra, pôr um ponto final nisso. Se há necessidade, que se pague o preço justo ao empresário pela terra e que se dê infraestrutura, assistência técnica e tecnologia às famílias assentadas. Só assim é possível viver com dignidade”, pontuou.

Infraestrutura
A infraestrutura do estado foi outro ponto levantado. “Menos de 2% do PIB são aplicados em infraestrutura no Brasil. A BR-101 corta o país do Rio Grande do Sul ao Nordeste e não tem nenhum trecho duplicado aqui”, lamentou. A falta de capacidade energética em municípios do Oeste baiano, por exemplo, impede o desenvolvimento de indústrias como a têxtil.
O presidente do Sistema Faeb/Senar também apontou a baixa conectividade no interior e a necessidade de priorizar cursos técnicos, além de criticar a posição da Bahia em rankings de ambiente de negócios. “Recentemente saiu uma pesquisa que mostra o ambiente de negócios nos estados brasileiros e a Bahia está em 22º lugar no país e o penúltimo no Nordeste, só à frente do Maranhão. Isto é muito ruim”, declarou.
Protagonismo
A crítica também recai sobre a perda de protagonismo da Bahia na economia nacional. “Já fomos a quarta economia do Brasil, hoje somos a sétima. Já tivemos mais de 60% da economia do Nordeste, hoje temos pouco mais de 40%. Estamos perdendo espaço”, destacou.
Miranda enfatizou a importância de o setor empresarial ser alinhado a políticas de desenvolvimento, geração de infraestrutura, segurança jurídica e capacitação. “É importante para o governo que o setor empresarial vá bem porque quem gera riqueza é o setor empresarial, quem gera dinheiro para movimentar a economia é o setor empresarial”, concluiu.
Apesar dos obstáculos, o setor agropecuário baiano tem demonstrado resiliência, representando quase um quarto do PIB estadual e respondendo por mais da metade das exportações. A produtividade em grãos tem batido recordes, impulsionada por anos de clima estável, e há um investimento crescente em culturas como cacau e café. No entanto, Humberto Miranda reitera que o potencial de crescimento é limitado pela falta de condições estruturais adequadas.
Leia também: Serpro oferece curso gratuito sobre inteligência artificial para educadores


























